Sinal de Vida


Ela estava deitada, olhando o teto branco. Relaxada, parecendo solta no ar. Havia mesmo um esboço de sorriso em sua face, como se estivesse observando crianças brincando numa praça. Não lembrava nada, nem mesmo que dia era...
Subitamente uma dor intensa aperta o seu ventre, sobe pelo seu corpo e atinge sua alma. E ela se contorce sobre a cama, amassando os lençóis macios. O suor começa a minar da testa e a escorrer pela face atônita.
A dor aumenta, preenche todas as entranhas do seu corpo e o vazio torna-se ausente, como a sensação de uma época passada e não vivida.
Mas aos poucos a resposta vai se formando, e a intensa dor, maior ainda, parece um foco de luz mostrando  as necessidades e as indagações.
No mesmo segundo, tudo se torna tão claro. E o medo junto com a dor cria a pergunta fundamental e leva a uma existência futura. Ou será presente ?
Todos os seus músculos se contraem em uníssono, dando aquele momento uma grandeza celestial. Mas mesmo a incerteza de um amanhã, dá a ela uma ânsia fugaz que devora todo o seu corpo. E sabiamente não consegue acalmar a dor, que persiste, contorce, infiltra, machuca, comprime...
É quando então ela reconhece a dor de ser mulher, a dor sangrante. E entre um espasmo e outro, pensa e sente vontade de gritar:
ESTOU  VIVA!  OBRIGADA DOR!!

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