De quando em vez








Hoje acordei com vontade de chorar. Não sei se já aconteceu com você, com a senhora Dona Maria ou com o senhor Seu Zé, creio que sim. Pois é, a gente levanta assim meio acabrunhado, olha o dia la fora, tá um sol danado, mas a gente acha meio sem graça, a água da torneira tá fria demais, o café tá quente demais, nas notícias na tv só tem idiotice, o futebol não faz sentido, o rádio só toca música triste, ou alegre demais, ou ridículas demais, ou comercial demais, ou falação demais; o bom dia soa falso, os sorrisos idem, o trânsito tá bem pior, os amigos estão distantes, o namoro agora não, o trabalho a mesma coisa, sexo só pra semana, as filas aumentaram mais ainda, os preços também, as pessoas falam alto demais, tem muito lixo na rua, o celular tá sem sinal, a violência insuportável, o ar quase irrespirável, não deu pra almoçar direito, lembrou que não tomou café direito, não comprou nada pra comer em casa, o barzinho tá vazio, o outro tem muita gente, a bateria descarregou, sem saco pra supermercado, devia ter tirado dinheiro, chuva fora de hora, vizinho insuportável, isso não é hora de espirrar, porra, gripe não, queria falar com alguém, desabafar, melhor não, deitar com fome, roupa suja no chão, puta que pariu, essa porra desse dia não acaba mais, melhor ir dormir logo.
Insônia.
Cara no travesseiro, nuca no travesseiro, mãos coçando a cabeça, mãos embaixo do travesseiro, cama desarrumada. E esse nó na garganta que engasga e essa visão embaçada e esse grito sufocado que não sai.
Chora de uma vez porra, deixa de frescura contigo mesmo, bota pra fora essa angústia, esse estresse sem sentido, essa farra de sentimentos bagunçados... deixa rolar a lágrima, o soluço contido, o murmúrio guardado... reclama da vida, maldiz  todo mundo, deixa que rolem as lágrimas, deixa que elas lavem a face, deixa tua alma respirar em pranto. Pronto. Daqui a pouco passa.
Da próxima vez chora logo de manhã, junto com a luz do sol. Assim até o dia nublado pode te fazer mais feliz.

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