Interpretando o intemporal - uma tentativa
Tudo
que captamos através dos nossos sentidos é interpretado pelo nosso cérebro e
nos dá a nossa referência e posicionamento no mundo. Então aprendemos,
escolhemos, sentimos, nos relacionamos, crescemos e por aí vai.
Exemplificando,
se eu aprendi que a cor da maçã é azul, então a cor vermelha para mim seria
azul. E posso passar toda a minha vida chamando vermelho de azul. E o que seria
azul poderia ser vermelho ou ter qualquer outro nome, de acordo com o aprendido
por mim, como gato, por exemplo. Então, a maçã seria azul, o vermelho seria
azul e o azul seria gato. Mas, e o gato? Como se chamaria o gato? Sei lá,
poderia ser qualquer outra palavra, talvez pedra. Então teríamos, maçã é azul,
vermelho é azul, azul é gato e gato é pedra. E pedra? Como seria chamado? Novamente,
poderia ser qualquer outro nome, de acordo com o que foi ensinado ou percebido
pelos meus sentidos. Poderia ser, por exemplo, vento. Então já teríamos: maçã é
azul, vermelho é azul, azul é gato, gato é pedra e pedra é vento. Onde isso
iria parar? Em qualquer lugar sem o
menor problema, só dependendo de como foi captado, aprendido e interpretado por
nós. Se assim fosse, não estaríamos achando estranho chamar gato de pedra ou
dizer que a maçã é azul. Tudo é interpretação, só assim entendemos o mundo e
todos os seus conceitos, do físico ao abstrato. É assim que sentimos as coisas,
entendemos ou não as matérias na escola,
buscamos explicações para o quê ainda não sabemos e tentamos transmitir tudo
que pensamos, sonhamos, imaginamos, ou seja, tudo que interpretamos.
Mas
pra que essa conversa toda mesmo? Apenas
pra perceber o cerne da questão, ou seja, a interpretação. Nada somos se não
interpretação de nós mesmos ou daquilo que nos cerca, seja físico ou abstrato.
Ou melhor, das necessidades básicas para a vida até os sonhos ou ideias
abstratas de fé e metafísica, tudo depende do entendimento da interpretação que
se dá ou que se produz. Ou seja, sem interpretação não há entendimento, nem
organização, nem relacionamentos, nem conhecimentos, nem ensinamentos, nem
qualquer coisa que esteja ou faça parte do que conhecemos como tempo. Isso
mesmo, tempo, o único fator que interfere em todas as coisas existentes ou
abstratas que existem em nossas mentes, corpos e interpretações. Do tempo nada
se livra, nem nos livra, pelo menos enquanto existirmos, aqui nesta dimensão
que chamamos de vida. A percepção do “tempo passando” modifica tudo e todos,
pois, sem ser um fato físico, o tempo, como o percebemos, entranha-se por todo
o físico e por todo o abstrato. Talvez seja o tempo, o “algo” mais fácil de
lidar, pois não precisamos compreendê-lo, apenas percebê-lo e o aceitar como
existente. Simultaneamente talvez seja o “algo” mais difícil de entender, pois
apenas temos de passar por ele, ou o sentir passando por nós, sem poder sequer
questioná-lo. Mas, já que não se pode parar o tempo, também não há necessidade
de interpretá-lo. Ou há? Como tudo depende do ponto de vista de cada um, no
momento que eu decido entender o tempo, o momento seguinte já não será mais o
mesmo momento que eu decidi entender o tempo. Então tenho que começar de novo,
a partir do novo momento. Mas, em seguida, já será outro momento, então
começaria novamente a partir dali, mas, no momento seguinte já seria outro
momento, então... Infinitamente, seguiríamos enlouquecendo sem nunca chegar a
qualquer lugar ou pensamento.
Doidice?
Insensatez? Neurose? Falta do que fazer? Falta de assunto?
Tempo
de sobra? Falta de tempo?
Ou
apenas uma questão de interpretação?
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