Um ponto no universo

Pergunto-me se acontece com outras pessoas ou só comigo. Mas deve acontecer sim com os outros também. Assim, ultimamente tenho me sentido mais emotivo, mais a flor da pele, apenas observando o passar do tempo, como se o correr da vida ao meu redor me tornasse a cada dia mais sensível, mais disposto a me entregar aos sentidos. O riso pode chegar mais fácil, mas, os olhos marejam mais rápido também. E o nó na garganta se apresenta agora com mais facilidade. Será a idade? Mas o envelhecer não deveria nos tornar mais fortes e mais duros no coração? Pelas experiências e agruras do viver? Ou não?
Agora, as lágrimas se achegam e debulham-se por pouca coisa. Pode ser uma cena bonita de um filme, não digo nem muito pelo diálogo ou carga emotiva de personagens, mas pela simples beleza da cena em si, como uma nuance de luz, o captar de um olhar, o acorde musical na hora certa, o bailar das imagens na câmera, o significado íntimo de um gesto, enfim, são detalhes que me emocionam. Ou então uma frase simples dita de um jeito certo, pela pessoa mais inesperada possível. Ou uma gentileza de alguém na rua, que nunca mais vou encontrar de novo. Um por de sol inusitado, visto pela primeira e última vez, como todos os outros por de sol, que são únicos em beleza, todos os dias. A chuva que se aproxima com sua calma feroz, o olhar compreensivo do meu cachorro, o dedilhar no piano tirando notas esquecidas há tempo, o redescobrir pessoas queridas que estavam tão perto sem eu perceber, o saber que alguém se importa se eu gripar. Um monte de pequenas coisas sem significado maior se comparado com o geral, mas, de um significado imenso e profundo, levando-se em conta o momento que se vive, se percebe e se valoriza.
Claro que me tocam e me surpreendem as catástrofes naturais, os movimentos sociais, as revoltas e manifestações das massas, os crimes e tragédias diárias, as sacanagens dos poderosos, o consumo e tráfico de drogas e tantas outras tristezas em noticiários nacionais e internacionais, mas nessa hora sou cidadão e apenas mais um item das estatísticas, faço parte do geral, um entre tantos outros que estão sendo bombardeados pela mídia alucinante e sofrendo as influências dos tempos atuais cheios de contradições e confusões.

Mas, não me refiro ao todo, me volto mais pra dentro de mim, como se pudesse com um simples olhar, me ver por inteiro em corpo e alma, em orgânico e espiritual, em carne e emoção. Como se eu, como pessoa, estivesse concentrado em um ponto só e pudesse perceber ao meu redor a imensidão desse universo sem fim. Assim, a partir desse único ponto, diante da inimaginável grandeza eterna e cósmica me percebo incompleto, mas, em busca, sempre, descobrindo, aprendendo e desaprendendo pra sempre se renovar. E descubro mais uma vez que é assim mesmo. Eu, como tantos outros eus, e tantos outros assim como eu, apenas experienciamos o tempo, o mundo, o agora, o sempre. E nos construímos, a cada momento, com emoção, sonho e vida. Afinal, nós já somos eternos.

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