A B C mortal


Mais uma da minha secretária para assuntos domésticos.
Ela puxou o assunto assim, do nada, como sempre faz. Se alguém falar, ela conversa, se ninguém falar, ela começa. Aliás, se não houver qualquer pessoa pra conversar, ela conversa sozinha ou com o cachorro mesmo e ele (o cachorro) adora, fica na maior atenção. Vou preservar algumas palavras como ela fala, assim o texto ganha em expressividade.
- O sinhô ouviu dizer da morte de reginaldo rossi?
- Pois é, mulher. Morreu o nosso rei do brega. Que coisa...
- E ele morreu de que mermo?
- Acho que foi câncer no pulmão.
- Vixe santíssima. O danado do cigarro né? E eu canso de dizer isso pra minha minina em casa e pro irmão dela. Os dois num tira o cigarro da boca. Pode fartá tudo menos o condenado do cigarro. Quanto mais falo parece que é pior. Bixim do Reginaldo. E cantava até bonzinho viu. Eu achava. Mas todo mundo morre né? Ta vendo seu Neco da barraca das fruta ? Tão novo, ainda não tinha nem 50. Onte só soube da notícia. Morreu. Morreu de ABC. – Parou um pouco, como se pensasse melhor - Isso de ABC é o mermo que um derrame né?
Tive que conter o riso e apenas respondi - É sim, AVC.
- Minsericórdia! E apois, isso mermo. Coitado. Faz até pena, um homi tão novo. Morrer assim do nada de ABC. Vixe, a gente num vale nada mermo pra morte.

E após uns dois minutos de silêncio, começou outro assunto, completamente diferente.

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