Banho cívico


“Quem canta seus males espanta”, já ouvi isso algumas vezes. Pois é, e eu não canto. Hora alguma. Não canto fazendo faxina, nem arrumando guarda-roupa, nem ouvindo música, nem mesmo no banheiro.

Dia desses, conversando com um amigo, ele falou que é preciso cantar, assobiar, ou balbuciar qualquer som, enquanto se faz as coisas, nem que seja um lá, lá, lá, qualquer. Segundo ele, é bom para o espírito e ajuda a melhor passar o tempo. A partir de então, comecei a prestar atenção nas pessoas ao meu redor e percebi que elas cantam. Umas cantam um suave hum, hum, hum, outras em lá, lá, lá, algumas assobiam, e por aí vai. Tem gente que sai por aí cantando baixinho, dublando o som do headphone, cantando alto mesmo, ou simplesmente se balançando ao som de sua cabeça. E, eu, no mais profundo silêncio. O que é pior, eu adoro música. Estou sempre ouvindo um cd, rádio, computador, etc. Sempre tem música ao meu redor. Mas que danado me faz não cantar? Sei não.


 Então decidi. A partir de agora vou começar a cantar como os normais mortais cantores triviais. E olhe que já comecei. Ontem, decidi que a partir de então, aquele seria meu primeiro banho ao som de música produzida por mim mesmo. Entrei no banheiro cheio de vontade e segurança. Tirei a roupa, abri o chuveiro e comecei a me molhar. Então, simplesmente lembrei que não sei qualquer letra de música. Frustração total. Estático em baixo do chuveiro, fiquei pensando, pensando... Como danado a pessoa não sabe nenhum raio de música? Impossível isso. Será que “Atirei o pau no gato” serve? Não. Ridículo. A água do chuveiro continuava a cair na minha cabeça e o pensamento afogou-se. De repente lembrei, respirei fundo e mandei ver. “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heroico o brado retumbante...”. Foi o banho mais cívico que já tomei na vida. Mas, pelo menos comecei minha carreira de cantor de banheiro. Já me prometi melhorar o repertório.

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