Jesus, coelhinhos e ovos de chocolate
Naqueles dias,
nos arredores de Jerusalém, numa madrugada de domingo de páscoa, ao lado do
sepulcro onde fora colocado o corpo de Jesus, que tinha sido crucificado e morto
na sexta feira anterior, havia a poucos metros ao redor do sepulcro, alguns pés
de cacau, cujos frutos caíam por terra e serviam de alimento para algumas
galinhas que faziam seus ninhos entre as árvores, onde punham seus ovos,
diariamente, antes do nascer do sol. Havia também, perto dali uma fazenda de
criação de cordeiros, onde o dono criava também, alguns coelhos de pelo escuro,
para diversão das crianças. Naquela madrugada, quando a escuridão da noite
começa a se desfazer para dar lugar ao dia que vem raiando, de repente, houve
um leve trovejar no meio das nuvens que estavam ali por cima. Sem que houvesse
qualquer sinal de chuva, as nuvens começaram a se juntar acima do sepulcro,
formando um círculo e começaram a girar, inicialmente bem devagar e em seguida
começaram a girar mais rápido, se aproximando cada vez mais do sepulcro. Ao
redor, um vento forte começou a soprar, balançando as árvores, levantando
alguma poeira juntamente com as folhas que antes estavam caídas, formando um
pequeno redemoinho ao redor do túmulo. As galinhas abandonaram os ninhos
assustadas, esquecendo os ovos. Os cordeiros da fazenda corriam de um lado para
outro e os coelhinhos assustados saíram dos abrigos e ficaram como que
paralisados olhando em direção ao redemoinho que aumentava. Tudo isso
acontecendo ao mesmo tempo e incrivelmente, sem produzir qualquer som. Fez-se
um absoluto e inexplicável silêncio, enquanto toda essa agitação acontecia. No
meio das nuvens giratórias, começou a surgir uma luz azul resplandecente,
inicialmente, no ponto central do redemoinho, ficando cada vez mais forte. De repente,
do centro do ponto de luz, sai um facho em forma de raio azul e lentamente
desce até o sepulcro. Esse raio começa a envolver o sepulcro, criando várias
faixas de luz e penetrando por todas as frestas, ao redor da pedra grande e
pesada que lacrava o sepulcro. Ainda em absoluto silêncio, essa mesma pedra que
para ser colocada precisou de cinco homens, começou a levitar calmamente e sair
do lugar, como se algo a levantasse com facilidade, parecendo uma grande pluma.
A pedra foi retirada do lugar original, içada pela luz azul e deixada ao lado,
ficando a entrada do sepulcro totalmente livre. Então, os raios se dirigiram
para dentro do sepulcro e iluminaram tudo, com um brilho azul e prateado, como
se toda a luz do sol estivesse ali concentrada. Parecia que toda a natureza
tinha parado, e tudo o mais prestava atenção ao que acontecia naquele lugar.
Então as luzes começaram a diminuir de intensidade e o azul ficou mais intenso
e aconchegante. Foi quando de dentro do sepulcro saiu um homem, andando
calmamente, passou a porta, deu mais alguns passos, voltou-se para o sepulcro
vazio, fez uma reverência e as luzes deram um leve piscar. O homem deu as
costas e saiu andando pelo caminho que havia, em direção a cidade, com passos
leves e decididos. Ele andava como se não tocasse a terra, seus passos não
deixavam qualquer rastro ou marca na terra e a luz iluminava o seu caminho a
frente, como se indicasse para onde deveria ir. Enquanto essa luz passava pelos
ninhos abandonados, à medida que os ovos recebiam a claridade daquela luz, iam
mudando de cor para um marrom escuro e aumentando de tamanho, como se o efeito
da luz, junto com o cacau comido pelas galinhas, tivesse causado alguma mudança
química na composição dos ovos.
Ao mesmo tempo, os assustados coelhinhos de
pelo escuro, saíram correndo em disparada e chegaram ao local dos ovos
crescidos, e, quando alguns passavam pelo facho de luz cintilante, ficavam
totalmente brancos, assim que a luz batia neles. Quando então a luz foi
diminuindo e a claridade do começo da manhã foi voltando ao normal. De repente,
o silêncio acabou e todos os sons voltaram ao mesmo tempo. O sepulcro, agora
vazio, o vento soprando e assobiando por entre as árvores, o canto dos
pássaros, todos os sons da manhã nascente afloraram normalmente, como se nada
demais tivesse acontecido. Os coelhinhos, com sua curiosidade característica, sentiram
algo diferente ao redor e perceberam o tamanho e o cheiro diferente daqueles
ovos marrons. Quando eles passavam entre os ovos, cheiravam e batiam neles,
esses ovos rolavam na terra e não quebravam. Um dos coelhinhos começou a roer
um dos ovos e a casca tinha uma textura completamente diferente e um sabor
diferente de tudo que eles tinham provado até então.
Os outros perceberam e
começaram a beliscar os ovos e daqui a pouco, todos roíam aqueles deliciosos
ovos marrons de sabor completamente inusitado.
Foi quando
então começaram a aparecer algumas mulheres que iam visitar o sepulcro e
perceberam que ele estava vazio e começou outra algazarra, com gritos de
admiração e surpresa pelo estado do sepulcro e a pedra que cobria a entrada
fora do lugar, sem quaisquer indícios de que alguém tivesse empurrado a dita
pedra e sem que houvesse marcas no chão. Com o passar das horas e a grande
afluência de pessoas ao local para ver o que tinha acontecido, chegaram também
crianças de todos os lados, e, enquanto os adultos ficavam admirados com o fato
do sepulcro vazio elucubrando mil teorias, as mais mirabolantes possíveis, as
crianças, com sua curiosidade própria, descobriam os tais ovos marrons sendo
roídos pelos coelhinhos, agora em sua maioria brancos. E em pouco tempo começou
outra algazarra, agora promovida pelas crianças. Eram gritos de alegria e farra
pela descoberta dos coelhinhos, ao mesmo tempo que alguém, vendo que os
bichinhos gostavam do sabor dos ovos, resolveu também provar o sabor dos tais
ovos marrons. E, claro descobriram um sabor completamente diferente de todos os
sabores até então saboreados pelos paladares de toda Jerusalém. Ninguém, nunca
tinha sentido aquele sabor meio doce, meio amargo, junto com aquela textura
completamente diferente que tinha uma certa dureza, mas, ao ser colocada na
boca, começava a derreter maravilhosamente, fazendo a pessoa querer mais e mais.
E assim foi
por todo o dia. As notícias do sepulcro vazio se espalharam rapidamente,
juntamente com a história dos deliciosos ovos marrons, que tinham aumentado de
tamanho, como também a história da mudança de cor dos coelhinhos que antes eram
todos de pelo escuro, estando agora alvos como a neve. Tudo era muito estranho. Alguém
logo teve a ideia de levar os ovos para casa e abrir, outros raspavam os ovos e
faziam uma farinha, outros ainda misturavam com leite quente para dar aos
filhos menores. Com o tempo descobriam que o gosto tinha algo parecido com os
frutos dos cacauzeiros que as galinhas comiam, e foram surgindo teorias e
receitas que juntavam sementes de cacau, leite, ovos e tantas outras histórias
que não tardou a se inventar algo parecido com o que hoje chamamos de
chocolate. Diante disso tudo, é claro, a mais importante notícia foi, sem
dúvida, o sepulcro vazio e todas as teorias e histórias de fé que surgiram
daquele fato. Mas, enquanto as histórias e os mistérios da fé foram se
avolumando e se tornando cada vez mais poderosos, ao mesmo tempo, a imagem dos
coelhinhos brancos roendo os deliciosos ovos marrons, também foi ganhando
espaço e fama. Talvez, por isso, até
hoje quando se fala que um homem chamado Jesus, ressuscitou ao terceiro dia e
se comemora o fato com alegria, também se relembram dos fatos que aconteceram
com os ovos marrons que aumentaram de tamanho e os coelhinhos de pelo escuro
que ficaram brancos, ao mesmo tempo. No mais é comércio mesmo que ninguém é
bobo de se aproveitar de uma ideia boa dessas sem dar um jeito de ganhar uma
grana.
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